MINISTÉRIO DO TURISMO QUER LEVAR MAIS VISITANTES ÀS FAVELAS

14/05/2013

Do alto do complexo de favelas que já foi considerado o mais perigoso e impenetrável do Rio, o ministro do Turismo, Gastão Vieira, anunciou um convênio com o governo do estado para estimular o turismo nas favelas cariocas. O programa tem como foco as favelas que o governo chama de “pacificadas”, ou seja, que receberam unidades de polícia pacificadora (UPPs). A notícia, inimaginável há três anos, reforça a propaganda do governo Sérgio Cabral apoiada nas UPPs. Mas inegavelmente a presença de turistas em locais que já foram praças de guerra tem muito de positivo para a capital fluminense.

O vai-e-vem de turistas já é uma constante em favelas da zona sul. No Morro Santa Marta, em Botafogo, no Chapéu Mangueira e no Babilônia, no Leme, e até na Rocinha e no Vidigal as festas repletas de estrangeiros e jovens “do asfalto” entraram de vez para o roteiro de fim de semana da cidade. Curiosamente – e talvez propositadamente – o anúncio foi feito em uma área que ainda sofre com a resistência de grupos de bandidos, e onde foi morta, no ano passado, a primeira policial de uma UPP, em um ataque de traficantes.

O convênio anunciado pelo ministro visa principalmente a qualificar e atrair profissionais do turismo para atuar nessas áreas. Segundo Vieira, é papel do poder público prover “infraestrutura e recursos” necessários para que o turismo seja atraente, rentável e faça parte da revitalização econômica do Alemão. De certa forma, o que se dá, naquela parte há muito esquecida da cidade, é o que se ocorreu e ocorre em grandes metrópoles do mundo todo: na era pós-industrial, os serviços e atividades como o turismo ganham peso na máquina de geração de renda e emprego do setor privado.

No caso do Alemão, a derrocada econômica não se deu exatamente sob a batuta das mudanças econômicas. Nos últimos 30 anos, além das transformações nas grandes indústrias, aquela área, ocupada por bandidos, praticamente expulsou grandes empresas, fazendo minguar os empregos e criando uma zona de sombra no Rio de Janeiro. Enquanto o problema foi só dos bairros em volta do Complexo do Alemão, ninguém deu atenção. Mas as guerras de traficantes, os confrontos com a polícia, as balas perdidas e as investidas de quadrilhas dedicadas aos mais diversos tipos de roubos, sequestros e banditismo tornaram o problema grande demais para caber sob o tapete.

A “pacificação” tem grandes defeitos a serem corrigidos. À medida que o programa de UPPs cresce, descobre-se que as tênues mudanças na formação dos policiais não são a revolução que se imaginava. E os desvios na tropa que atua nessas unidades começaram a aparecer com mais frequência. Manter o poder armado do tráfico de drogas longe das favelas é bem mais fácil em pequenas encostas da Zona Sul, como o Santa Marta e o Chapéu Mangueira, do que em favelas com a população de pequenas cidades, como o Alemão, a Rocinha e a Cidade de Deus.

Mas além dos números oficiais do governo do estado, há sintomas claros de que uma transformação está em curso. Imóveis de áreas antes degradadas saltaram de valor, locais antes perigosos até para a polícia recebem visitantes e, ainda que de forma lenta, os benefícios da cidade chegam a quem vivia à margem da cidade formal. Dados apresentados pelo governo do estado indicam que até no Alemão – mais distantes, menos seguro e muito menos famoso que os morros da Zona Sul – o fluxo de turistas já é uma realidade. A página do governo do estado informa que, ao longo de 2012, mais de 100 mil pessoas foram transportadas pelos bondinhos construídos naquelas favelas, dos quais 70% de “turistas” – ou seja, não moradores. O teleférico do Alemão – que a presidente Dilma já chamou de “símbolo do PAC” – foi o local escolhido por Gastão Vieira para o anúncio.

O governo do estado receberá da Fundação Getúlio Vargas (FGV) uma pesquisa, feita com turistas que chegam à cidade a partir do Aeroporto Internacional do Galeão/Tom Jobim, segundo a qual mais da metade dos turistas tem interesse em conhecer as favelas. Segundo o estudo, entre os brasileiros, 58,2% dos turistas querem visitar os morros. Entre os estrangeiros, o índice é de 51,3%.