Já pensou qual o custo do trânsito nas grandes cidades? Uma pesquisa divulgada em 2014 e realizada pelo software de navegação GPS TomTom estimou em R$ 170 bilhões o custo do tráfego para o Brasil, sendo que só a cidade de São Paulo somava um prejuízo de R$ 80,2 bilhões com as suas ruas e avenidas engarrafadas. E a soma do tempo perdido nesses congestionamentos atingia uma média de 240 mil horas.
Um cálculo feito pelo IBGE, em 2013, mostrava que se o conjunto de trabalhadores brasileiros pudesse converter o tempo perdido no trânsito (levando em conta apenas 60 minutos a mais do normal entre o trajeto da casa do trabalhador e seu local de trabalho) em salário, haveria um acréscimo de cerca de R$ 1,77 bilhão a cada mês.
Com os congestionamentos, perdem as cidades, as empresas e os trabalhadores. No caso das organizações, a produtividade cai não apenas em função de atrasos na entrega de mercadorias ou na chegada de seus profissionais, mas em função dos impactos do trânsito na saúde de seus colaboradores. Doenças como diabetes, úlcera, aumento da pressão cardíaca, síndrome do cólon irritável, dermatite e redução da libido estão entre as possíveis consequências ao organismo desse estresse nas ruas e avenidas.
“O estresse é o conjunto de fatores ambientais, externos, do dia a dia, que acarretam distúrbios fisiológicos e psicológicos como ansiedade, nervosismo, impaciência, irritabilidade e até depressão. Esses fatores podem ser bons ou ruins e não afetam as pessoas da mesma forma; é algo individual. O que é estressante para um pode não ser para outro”, diz o coordenador do curso de psicologia do Centro Universitário IBMR, do Rio de Janeiro, Sérgio Medeiros.
Ele conta que o desgaste mental de ficar preso durante horas no trânsito é fruto de uma sensação de impotência, que origina o estresse, podendo causar inclusive danos fisiológicos e mentais.
“Outra disfunção pode ser a ansiedade – que ativa o sistema nervoso autônomo simpático, responsável por nos deixar prontos para fuga ou qualquer eventualidade. Como resposta orgânica ao estresse, podemos desenvolver doenças que afetam desde coração (hipertensão), estômago (úlcera), intestino (constipação) e pâncreas (diabetes) até pele (dermatite) e sistema reprodutivo (perda de libido)”, explica.
Para compensar esse cenário, o professor sugere “atitudes benéficas”, ações prazerosas como ler, escutar música e acessar a internet. “Elas podem ajudar a diminuir o estresse durante o congestionamento”, diz. Evitar sair justamente nas horas de pico e, para aproveitar o tempo, se distrair com amigos também são boas opções. Outra atitude que auxilia na redução do estresse é, na avaliação de Medeiros, ao chegar em casa, desligar-se totalmente daqueles momentos de estagnação, tomando um banho para relaxar e fazendo somente coisas prazerosas como comer algo de que goste.
“Caso a pessoa não consiga evitar o estresse e aliviar a tensão ou comece a perder o prazer em tarefas que antes a distraíam, como rever a família após um dia de trabalho, ela deve enxergar esse cenário com atenção. Esse quadro pode ser o início de um pequeno distúrbio paranoide em relação ao trânsito e o ponto inicial para buscar ajuda profissional”, comenta.
Para amenizar esses problemas e ajudar na diminuição dos elevados números, como os vistos no início deste texto, bem como para contribuir para um mundo mais sustentável, muitas empresas passam a oferecer alternativas de transporte e de trabalho para seus colaboradores, que vão desde a possibilidade de uma parte deles trabalharem em sistema de home office, até o oferecimento de transporte fretado e o incentivo de caronas.
Em setembro de 2013, foi realizado na capital paulista o Seminário internacional: Mobilidade corporativa e cidades sustentáveis, organizado por WRI Brasil, Banco Mundial e Embarq Brasil, que discutiu o papel do setor privado na mobilidade urbana sustentável de funcionários. Um dos assuntos tratados foi o Projeto Piloto de Mobilidade Corporativa, desenvolvido na região da Av. Berrini, em São Paulo, considerado um grande polo empresarial da cidade.
Na ocasião, a consultora em Políticas Públicas do Banco Mundial, Andréa Leal, que trabalha no projeto piloto, apresentou os números da pesquisa com dez empresas da região que participam do projeto, que tem entre seus objetivos reduzir a emissão de CO2, diminuir o consumo de energia, incentivar a sustentabilidade e melhorar a qualidade de vida.
Segundo a consultora, existem soluções para essas questões; o que é preciso é prestar mais atenção à demanda por transporte e ao seu uso mais racional. Andrea apresentou alguns dados da pesquisa para embasar o projeto: a maioria das pessoas que moram em até 1,5 km de distância do trabalho opta por dirigir seu próprio carro por considerar essa alternativa mais rápida. Por outro lado, 83% optariam pela carona se não fosse de carro ao trabalho; 77% iriam de bicicleta caso a empresa oferecesse um vestiário. Já 70% usariam transporte público se ele fosse melhor e 28% usariam se tivessem horários de trabalho flexíveis.
Dos colaboradores que vão dirigindo para o trabalho, 79% iriam de ônibus fretado. Desses: 72% iriam de ônibus fretado se tivessem mais de uma opção de horário; 38% iriam de ônibus fretado se alguém pagasse pelo serviço; 36% iriam de fretado se tivessem uma forma de voltar a casa em caso de emergência.
A comunicação também foi um ponto estratégico para o sucesso do projeto, segundo informou Andréa: o Hotel Hilton, por exemplo, criou um documento com todas as opções de transporte disponíveis. A Compuware e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) estavam desenvolvendo um projeto de home office com consultoria especializada.
Fonte: FRESP
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